Projectando-se a solo no palco grande do Teatro, João Reis vive para nós um homem da classe média nova-iorquina que viaja para um país pobre e em plena guerra civil. Longe da sua vida confortável e subitamente doente, confinado ao quarto de hotel, é possuído por um coro interior de vozes contraditórias: sonhos de conforto, imagens de violência física e económica, acusações de indiferença e argumentos impiedosos a favor da opressão. Uma importante discussão sobre a compatibilidade entre uma ideia moral e a vida das sociedades contemporâneas.
“Um texto escrito por um actor/autor, maravilhosa dualidade que nos levanta outra, aquela que nos interessa mais, a relação da palavra com a acção, não só na forma como usaremos o espaço e o tempo em transformar a peça em teatro, o que é dito em drama, mas sobretudo com a questão fundamental que este texto nos põe: o que fazemos depois de dizer todas estas palavras, o que é que fazemos depois de as ouvir, e como poderemos nós, público, continuar a ignorar a cadeia interminável de acções em que estamos inseridos, em que cada gesto feito tem consequência na vida de toda a comunidade, no frágil equilíbrio de todo o universo?”
Marcos Barbosa