Nas palavras de José Luís Ferreira, Director Artístico do São Luiz, “não se lê António Lobo Antunes. Viaja-se por dentro das suas ficções poéticas como quem se deixa transportar por um fio de memória. Vive-se empolgadamente, ou desoladamente, a acção dramática que a cada momento descola do exercício narrativo. Pode parecer mental, mas é visual, teatral, cinematográfico, musical. Por isto e por tudo – porque Lobo Antunes é um dos grandes autores universais e temos o privilégio de o ter connosco na mesma cidade onde vivemos, porque lê-lo é lermo-nos nas nossas vidas das últimas décadas, ou simplesmente porque é um prazer – faz-nos pleno sentido abrir a mãe de todas as temporadas, nesta casa das artes do palco, com um programa dedicado à literatura.”
Solveig Nordlund gosta de fazer filmes que nos surpreendam intelectual e formalmente. Com a adaptação cinematográfica de A Morte de Carlos Gardel, tem uma oportunidade única de empreender “mais uma prodigiosa aventura”. A partir de um emaranhado de discursos cruzados, discorridos por múltiplas primeiras pessoas, somos conduzidos por uma rede de memórias em cujo centro nervoso encontramos um jovem toxicodependente à beira da morte, o seu pai ingénuo, que não acredita que Gardel tenha morrido naquele acidente aéreo, uma tia obstinada… É a vida toda, com a morte dentro. Ou é um filme a partir de uma obra fundamental de Lobo Antunes.
[…] um mar mais calado, mais profundo, mais terno, um mar sem equinócios nem gaivotas, um mar desconhecido, penedos erodidos, uma praia infinita, pensava no mar, pensava tanto no mar que não vesti a saia, não pus os brincos, não apertei o colar, fiquei quieta, olhando pela janela a manhã de Corroios […]
António Lobo Antunes, A Morte de Carlos Gardel
17 SET
CONVERSA COM SOLVEIG NORDLUND E LUÍS GALVÃO TELES
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