Desde o início dos anos 90 que Will Oldham é uma personagem feita de vários alter-egos, construído por músicas e imagens. Testemunhou o último grande sopro artístico do indie rock, recuperou um género proscrito (o country) e deu-nos a ouvir, como se fosse a primeira vez, essa manifestação de uma voz e de um texto chamada canção.
Fê-lo primeiro num tom desconfiado, quase lúgubre, duro, inspirado tanto pela honestidade do punk como pelos ecos das montanhas Apalaches. Neste período, os seus discos tinham a assinatura de Palace Brothers, Palace Music ou apenas Palace, e inauguravam, para muitos, um novo género: o country alternativo. A partir de 1997, e até hoje, as coisas mudaram. Oldham abriu-se a versões (Richard Kelly, Leonard Cohen), foi alvo de versões (Johnny Cash, Mark Kozelek, Mark Lanegan) e colaborações (Björk, Current 93, Tortoise), envolveu-se em projectos laterais (com Matt Sweeney) e, sobretudo, tornou as suas canções mais partilháveis, mais próximas de quem as escuta. O humor, a exploração de outros arranjos e tradições da música popular americana (gospel, folk), a presença de vozes femininas e uma certa leveza contribuíram para essa intimidade.
Só as relações amorosas, a família, a liberdade, os temas eleitos do personagem, entretanto rebaptizada com o nome de Bonnie ‘Prince’ Billy, resistiram ao tempo. Neste retorno a Lisboa, traz-nos os temas do seu mais recente álbum Grave a Sea of Tongues, prestes a ser editado pela Drag City.
Galeria Zé dos Bois