Juntar no São Luiz, a cada duas semanas, uma comunidade crescente de leitores. Abordar, como se fôssemos piratas, um texto monumental que vai demorar muitas dezenas de sessões a ler. Ou seja, um projecto que sabemos quando começa mas ainda não sabemos, nem queremos saber, quando acaba. Um gesto que sussurrará permanentemente um subtexto que nos faz bem ouvir. Para nos lembrarmos de como somos frágeis e também fortes, de como é a nossa errância que produz as ficções com que nos enchemos de bravura ou paixão. Para nos lembrarmos das interrogações universais que levantamos a cada passo que damos.
Leituras em português, com algumas intervenções em espanhol.
Programar a leitura integral do Dom Quixote de la Mancha é, evidentemente, quixotesco. Por isso mesmo, nada poderia fazer mais sentido. Neste momento, como de resto em qualquer outro, porque na realidade estamos sempre no tempo do Quixote. Assim sendo, lá iremos espetar-nos contra os seus cento e vinte e seis capítulos, como se de moinhos de palavras se tratassem […] E acredite-se: vai ser divertido. Divertidíssimo, diria! Porque o Quixote é um livro muitíssimo divertido. E diverso. Tanto, que iremos desbravando caminho e temas, sem nos fixarmos numa direcção precisa – como, por acaso, ele mesmo fez ao deixar o seu cavalo, Rocinante, livre de escolher o rumo de suas andanças. Além das surpresas que da leitura virão, teremos outras… Já que não só de ler se trata, mas também de falar, comentar, discutir, pôr em relação, fazer música, teatro e até passar filmes e tudo o mais. É que, em definitivo, o mundo do Quixote não encerra em si o Mundo, ultrapassa-o.
Alvaro Garcia de Zuñiga