Muyte Maker
Flora Détraz [FR]
A alegria é o aumento da nossa potência de ser.
Espinoza, Ética
Através de uma exploração de imagens medievais, cantilenas triviais e pinturas grotescas, Muyte Makercelebra corpos desobedientes, anormais e irracionais. Muyte Maker examina a alegria como afirmação física e existencial: a alegria como desejo e potencial criativo e como distorção física ou contradição, que vai contra a maré da moralidade. As intérpretes cantam copiosamente, riem polifonicamente, dançam cegamente e tagarelam cacofonicamente, numa tentativa de traduzir toda a complexidade dos seus próprios corpos. Formada em França e em Lisboa, Flora Détraz começou a desenvolver o seu trabalho como coreógrafa em 2013, em França e em Portugal. Muyte Maker dá continuidade à sua pesquisa em torno da voz para lá do seu funcionalismo básico, procurando uma abordagem musical à dança.
Infini #5
Rimah Jabr [PS] & Decoratelier Jozef Wouters [BE]
Querida Rimah,
Como se calhar não vamos ter tempo de falar (sobre arte) hoje à noite, decidi escrever-te uma carta. Gostava de te fazer as perguntas que me ocorreram ao pensar sobre túneis e infinitude ? os dois tópicos que recordo da nossa breve conversa no Decoratelier, em Bruxelas. Tenho curiosidade de saber porque é que o espaço do túnel é importante para ti. Porque é que os túneis se transformam num ambiente para uma história, como a que me contaste, sobre pessoas que se sentem encurraladas?
Jozef Wouters, Nablus, 14 de agosto
O cenógrafo Jozef Wouters, estabelecido em Bruxelas, escreveu uma carta à dramaturga e encenadora Rimah Jabr (cocriadora de Uma canção para ouvir-te chegar de Sofia Dinger. Que tipo de espaço ou paisagem ela gostaria que fosse representado em palco? A correspondência entre eles começou com fotografias dos túneis por baixo do muro de Gaza. O cenário construído, em combinação com uma carta de Jabr, produz uma perspetiva incisiva e imaginativa sobre uma situação que só pode ser expressa no seu absurdo.
Le Kombi
Jeannot Kumbonyeki [CG]
ESPETÁCULO CANCELADO. SESSÃO TRIPLA EM CONJUNTO COM MUYTE MAKER, DE FLORA DÉTRAZ E INFINI #5, DE RIMAH JABR & DECORATELIER JOZEF WOUTERS MANTÉM-SE. O ESPETÁCULO É SUBSTITUÍDO PELA PROJEÇÃO DE VÍDEO DE JEANNOT KUMBONYEKI.
É com muita tristeza que informamos que, devido a problemas insolúveis com vistos, a apresentação de Le Kombi, do coreógrafo congolês Jeannot Kumbonyeki, prevista para 31 de maio e 1 de junho no São Luiz Teatro Municipal, não vai realizar-se.
Ao longo dos anos, o Alkantara Festival, com o objetivo explícito de apresentar projetos de artistas de outros territórios que não os considerados ocidentais, confrontou-se com diversas questões de controlo de fronteiras. Algumas vezes, garantir a entrada de artistas e as suas equipas em Portugal foi difícil, mas no final sempre conseguimos fazê-los subir ao palco. Desta vez não.
Em colaboração com a equipa da Studios Kabako (a estrutura de produção de Faustin Linyekula) tentámos obter uma autorização de visto para Jeannot desde meados de março. Em vão.
As autoridades congolesas ordenaram em janeiro deste ano, no meio de um crescente conflito diplomático entre a República Democrática Congo (RDC) e os países europeus, fechar a Maison Schengen, em Kinshasa. Este posto consular trata de todas as exigências de vistos para que os cidadãos congoleses possam viajar para os países do espaço Schengen. Até agora a Maison Schengen não foi reaberta o que significa que se tornou praticamente impossível para os cidadãos congoleses entrarem no espaço Schengen. Por seu lado, a União Europeia já deixou claro que não fará qualquer exceção, a fim de manter a pressão sobre a RDC.
Apesar dos nossos esforços e do apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi impossível contornar esta situação e trazer Jeannot até nós.
Esta história contém muitas tragédias:
A tragédia de um povo que sofreu dezenas de anos de conflitos e guerras só porque vivem sob os recursos naturais mais ricos do planeta, agora é feito refém num braço de ferro entre Kinshasa e Bruxelas.
A tragédia de um artista bastante talentoso, impossibilitado de mostrar o seu trabalho internacionalmente.
E a dos públicos de Lisboa, privado da possibilidade de ver um jovem dançar, de forma única e eloquente, o horror e a injustiça que seus compatriotas vivem.
O Alkantara Festival optou por não substituir a performance de Jeannot Kumbonyeki. Vamos antes utilizar o tempo da performance, integrada numa programação tripla, juntamente com Flora Détraz e Jozef Wouters, para partilhar um testemunho em vídeo de Jeannot Kumbonyeki e observar a situação atual no Congo. Gostaríamos muito de convidá-los a reunirem em torno desta cadeira vazia e ouvir os testemunhos do desespero inimaginável de uma nação.
Direção Alkantara