No final dos anos 1960, Trisha Brown criou uma série de peças dedicadas à exploração do movimento e do comportamento diário. De forma a desnaturalizar a relação do bailarino e da audiência com os usos quotidianos do corpo, Brown decidiu encenar o movimento numa parede vertical, desafiando a gravidade pelo uso de arneses e cordas. Deslocado para um enquadramento vertical, o movimento quotidiano foi visto pela primeira vez como um gesto altamente encenado, quase uma performance virtuosa individual de um guião cultural normativo incorporado. (…) Trazendo a tradição coreográfica de Brown para o mundo altamente techno-barroco da cultura pop global, PRIVATE é um relatório não solicitado sobre como sexo e o desejo sexual são fabricados através da repetição ritual de gestos corporais dentro do regime neoliberal. Em PRIVATE, há danças orientais de drag queens, exercícios de ginástica e de yoga ocidental que se transformam em poses futebolísticas e pornográficas, movimentos do treino teatral usado em publicidade, e a repetição por adolescentes dos rituais de Michael Jackson. Há Trisha Brown em transição para rebético [tipo de música popular grega], e uma única voz a lutar para sobreviver aos teatros sociais do género e da nacionalidade. (…) PRIVATE é um hino atemporal às transições.
Paul B. Preciado