“Se queres sobreviver, colocas a tua coragem num saco de plástico e aguardas.
A existência, começa a deixar de existir; o que é
absolutamente espantoso,
Monotonia e desinteresse.
Aperfeiçoámos (…) um sistema de gestos: sobreviver, sobreviver sobreviver.
Sobreviver é um projecto feito a partir do universo dos livros pretos de Gonçalo M. Tavares – Um Homem: Klaus Klump, A Máquina Joseph de Walser e Jerusalém. Embora ao longo do processo tenhamos contactado outras obras de Gonçalo M. Tavares (na peça existe um texto de O Senhor Brecht), foram os livros pretos e a sua enorme violência aqueles com quem nos relacionámos mais fortemente.
Este trabalho, inspira-se e alimenta-se em Gonçalo M. Tavares, mas fundamenta-se na violência e na brutalidade do nosso tempo, das nossas vidas. A dramaturgia do projecto é construída, assim, com todos os colaboradores, numa dicotomia entre o universo dos livros pretos e o que cada um tem a dizer a esse propósito.Dramaturgia essa que pretendemos continuar ao longo do espectáculo com a participação dos espectadores.
Quisémos manter no espectáculo a errância, o não-lugar, a precariedade em que existe o mundo destes livros pretos, nunca fixando a cena e obrigando-nos a uma grande imponderabilidade nos termos em que a peça é realizada.
O trabalho foi desenvolvido em grande parte numa residência realizada no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, e na Casa d’Os Dias da Água, em Lisboa.
A Gonçalo M. Tavares queremos agradecer a generosidade com que nos autorizou a pegar no seu trabalho e a fazê—lo nosso. Julgo que, por se tratar de um trabalho com toda a liberdade sobre a obra de um autor com uma obra tão vasta e reconhecida, devemos fazer uma advertência ao espectador: O Teatro não é Literatura, o Teatro que a Sensurround faz não se legitima no texto, não temos dúvidas de que o Teatro é um disciplina autónoma. E, parafraseando Gonçalo M. Tavares: Isto era tão óbvio que formulá-lo parecia estupidez.“
Lúcia Sigalho
Sensurround