Na mesma noite, duas arquitetas de paisagens sonoras sobem ao palco do Teatro São Luiz para uma masterclass de música para sonhos. A violoncelista polaca Dobrawa Czocher traz ao Misty Fest a sua estreia em nome próprio, Dreamscapes (2023), e ainda material de um futuro disco. Depois de se ter formado em duas prestigiadas universidades de música – a Chopin University of Music, em Varsóvia, e a Hochschule für Musik, em Detmold (Alemanha) – integrou a Junge Deutsche Philharmonie e, mais tarde, foi violoncelista principal da Neue Philharmonie Berlin, bem como solista na Szczecin Philharmonic. Aí adquiriu um profundo domínio do repertório clássico e se destacou com uma das principais violoncelistas. Ao lado da sua amiga e também pianista polaca, Hania Rani, Czocher aventurou-se na composição, lançando os álbuns Biała Flaga (2015) e Inner Symphonies (2021). Este último, com edição da célebre Deutsche Grammophon, alcançou reconhecimento a nível mundial. A naturalidade com que cruza a música filarmónica com abordagens mais alternativas à gravação e ao som é o que torna a música a solo de Dobrawa Czocher num caso muito sério. No festival, vem desvendar a magia e o significado dos estados de inconsciência. Na primeira parte, a norte-americana Julianna Barwick apresenta uma sonoridade repleta de texturas encantadoras, que transportará o público para uma atmosfera onírica e introspetiva. As suas composições, enraizadas na voz humana, são profundas e reflexivas. A partir de loops e sobreposições, constrói harmonias que conferem um efeito etéreo reconhecível no seu trajeto artístico e criativo.